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quinta-feira, 1 de março de 2012

Bichos sofriam maus tratos em sítio de Rogério Andrade em Petrópolis

 Agentes da PF tentam controlar uma lhama que estava na propriedade do bicheiro Rogério de Andrade Foto: Pablo Jacob / O GloboAndrade

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RIO - Acusado de chefiar uma máfia que controla a exploração de caça-níqueis e suspeito de estar por trás de assassinatos, o contraventor Rogério Andrade responde agora por crimes ambientais. A Polícia Federal instaurou inquérito nesta quinta-feira, depois que agentes encontraram em seu sítio em Araras, em plena APA de Petrópolis, 31 animais em condições precárias, parte deles submetida a maus-tratos. Os bichos — como cervos nobres (africanos), lhamas, alpacas, emu e avestruzes — foram apreendidos. A PF investiga se parte deles teria sido importada pelo contraventor de forma ilegal, sem autorização do Ibama.

A Operação Bicho do Bicho foi deflagrada nas primeiras horas da manhã, quando os policiais ocuparam a propriedade, localizada numa área nobre. Lotados na Delegacia de Combate aos Crimes Ambientais e no Comando de Operações Táticas (COT) — a tropa de elite da PF em Brasília —, os policiais estavam fortemente armados, temendo encontrar resistências. Mas no local estavam apenas funcionários — oito, no total.

A propriedade foi comprada por Rogério há cerca de sete anos. Conhecido como Sítio da Gaúcha pelos moradores da região, tem cerca de 40 mil metros quadrados e é cercado de verde. No terreno há um lago, uma casa grande e uma menor, boate, salão de jogos, sauna, churrasqueira e piscina. Aves são criadas soltas.

Os policiais apreenderam seis cervos (um macho, duas fêmeas e três filhotes, todos africanos), duas lhamas e duas alpacas (espécies comuns nos países da Cordilheira dos Andes), uma emu (animal australiano da família do avestruz) e quatro avestruzes. Havia ainda na propriedade outras aves, incluindo algumas espécies silvestres ameaçadas de extinção (como um tipo de papagaio). Soltos ou presos em cercados, foram encontrados também galinhas chinesas, patos e perus de várias espécies. Rogério vai responder por cinco crimes ambientais. Se for condenado, a pena poderá chegar a 35 anos de prisão.

— Os animais estavam sofrendo maus-tratos e vivendo em condições precárias. Estamos abrindo inquérito para investigar todos os crimes ambientais. Os animais agora serão levados para a Fundação RioZoo — afirmou o delegado federal Fábio Scliar, chefe da Delegacia de Combate aos Crimes Ambientais.

Animais são levados para o zoo do Rio

O veterinário Alex Lucas Spadetti, da Fundação RioZoo, e dois tratadores acompanharam a operação. Eles tiveram que dominar as lhamas e as duas alpacas, levadas nesta quinta para o Zoológico do Rio. Mas o trabalho maior foi conter um avestruz adulto, encontrado em péssimas condições, com uma grande ferida no pescoço. O animal só conseguiu ser contido — para ser levado até um caminhão — após o disparo de dardos com sedativo.

— Não há dúvida de que os animais sofriam maus-tratos e viviam em condições inadequadas. Contavam com pouco espaço e alimentação aparentemente deficiente. Agora vamos levá-los para o zoológico, onde passarão por exames e ficarão em quarentena — afirmou Alex Lucas.

O delegado Fábio Scliar contou que Rogério Andrade vai responder 13 vezes pelo crime previsto no artigo 31 da Lei Ambiental (introduzir espécie animal no país sem parecer técnico e sem licença expedida por autoridade competente); e 17 vezes pelo crime de maus-tratos (artigo 32 da Lei Ambiental). O contraventor responderá ainda por uso ilegal de motosserra, corte de árvore em APA e manter em cativeiro animais silvestres.

— Encontramos indícios para indiciá-lo por cinco crimes. Achamos animais silvestres ameaçados de extinção, árvores cortadas e motosserra na propriedade — disse Scliar.

Segundo funcionários informaram, Rogério não vai ao sítio há cerca de um ano e meio.

— Ele vinha muito aqui com o filho, que gostava mesmo do lugar. Depois que o garoto morreu, é rara sua presença no sítio — disse um dos empregados.

Bicheiro ainda é considerado foragido

O contraventor Rogério Andrade é considerado foragido da Justiça do Rio. Segundo o Tribunal de Justiça (TJ) informou ao GLOBO, ele teria um único mandado de prisão aberto na 4ª Vara Criminal do Rio. É fruto do processo que apura a execução de Paulo de Andrade, o Paulinho (primo de Rogério e filho de Castor de Andrade), morto em outubro de 1998 na Avenida das Américas, na Barra. Rogério foi acusado de ter sido o mandante do crime, mas sua pena teria sido extinta no Supremo Tribunal Federal (STF). O TJ informou que essa decisão, no entanto, não teria chegado ao Rio ainda.

Rogério ficou livre da prisão no processo que apura seu envolvimento no assassinato do sargento do Corpo de Bombeiros Antônio Carlos Macedo, em novembro de 2010, na Barra. O crime teria sido praticado por três PMs ligados ao contraventor. Macedo foi o chefe da segurança do bicheiro até o atentado a bomba que resultou na morte do seu filho, Diogo Andrade, em abril de 2010.

O Superior Tribunal de Justiça (STJ) também decidiu, no último dia 16, que o contraventor poderá apelar em liberdade de sua condenação, a 18 anos de prisão, por integrar a máfia dos caça-níqueis do Rio, desbaratada em dezembro de 2006 durante uma operação da PF. Em 2010, o Tribunal Regional Federal (TRF) do Rio havia mantido a condenação de primeira instância de dez dos acusados, entre eles Rogério, e mandou prendê-lo.

A polêmica acontece no momento em que o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, inicia uma cruzada de combate aos chefes da jogatina. Ele anunciou esta semana ao GLOBO que vai criar uma força-tarefa para investigar o crime de lavagem de dinheiro do bicho, cometido pelos policiais que atuam nessas quadrilhas.

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